quinta-feira, 18 de abril de 2019

Pandemia



  • A Peste

Há cerca de 12 anos, na hegemonia industrial desta cidade, um forasteiro cruzou os portões do povoado, iniciando uma caminhada que mudaria a vida dos mortais habitantes. Todos observavam, com curiosidade e redundância, a bizarra figura se locomovendo a passos ágeis pelas ruas, com perfeita ciência de sua direção. Pés descalços, físico esquelético e padecido, cabelo e barba inaparados. Carregava uma grande cruz de madeira, semelhante às usadas nas crucificações romanas, cuja ponta se arrastava no asfalto.

Apesar das mortificações por todo corpo - salientes nas roupas rasgadas e mofadas - mantinha-se firme e forte, levando aquele pesado instrumento de redenção sem relutar ou demonstrar dor. Ele atravessou vizinhanças inteiras, sempre mantendo o mesmo ritmo, até chegar à Praça de Renascença, no centro da cidade. Nunca entendi o porquê de ninguém o ter abordado ou tentado tratar de seus ferimentos; deviam estar amedrontados com aquela situação incomum; é o que gosto de acreditar. O fato é que mencionado homem, em circunstâncias miseráveis, conseguiu perambular dúzias de quarteirões até seu objetivo.

Chegando na praça, parou nas escadas da igreja que jazia ali, a mesma onde eu compareço uma vez por semana para sanar meus pecados. Aos olhos dos cidadãos, funcionários do governo e pombas locais, o forasteiro profetizou o fim do mundo.: “Todos nós sofreremos pelos crimes dessa geração, e o pagamento começara quando a aura negra vier em busca de nossos corpos e almas. A discórdia se alastrará pelo planeta, ninguém estará a salvo, e tal calunia terá inicio exatamente aqui, na cidade de Bela Linhagem, os últimos a se vender para o mal do progresso”. E morreu exatamente ali, ao suspirar as palavras finais. Até hoje o caso é um mistério, abrindo margem para inúmeras hipóteses.


Estou de volta meus ouvintes, consegui emendar alguns cabos aqui e poderei transmitir a uma curta distância pelos próximos minutos. Uma estranha onda magnética comprometeu todo o equipamento elétrico e a comunicação num raio ainda desconhecido, mas irei fazer o meu melhor para continuar com vocês até o fim do programa, eu prometo.

Incontáveis teorias rodeiam o mais novo terror que assola a humanidade, um inimigo que age nas sombras arquitetando o fim de nossa espécie direto das profundezas das células humanas, a praga que transforma qualquer condenado que a hospede numa besta do inferno faminta por carne crua.

Muitos atribuem o mal a razões místicas e religiosas, mas a hipótese mais aceita é a proliferação de uma doença infecto-contagiosa que se espalha rapidamente causando alterações em qualquer organismo que faça contato. Através da capacidade única dessa forma de vida, que ainda não foi identificada pela ciência, de transmutar a si própria e o ambiente ao seu redor, é possível a modificação de ciclos naturais inteiros e até mesmo dos rumos da evolução biológica em um piscar de olhos.

Mas esse milagre da natureza provou-se uma maldição para os seres-humanos. Pessoas infectadas apresentam em seu quadro clínico: intensa psicose, perda do autocontrole, comportamento impulsivo e animalesco, uma extraordinária mudança nos hábitos alimentares (chegando a praticar canibalismo), licantropia, dentre outros sintomas. Mesmo com as pesquisas a todo o vapor, nem ao menos o agente causador da enfermidade foi identificado, a fabricação de uma vacina ou até uma cura num futuro próximo é muito improvável.

Como foi comprovado no incidente de Bela Linhagem, os efeitos da doença são, no mínimo, catastróficos para a civilização humana. À medida que as legiões de monstros devoradores de homens infestam as ruas, o medo e a paranóia germinam nos corações dos sobreviventes. O caos social é inevitável, a partir daí os poderes entram em decadência até desaparecerem por completo nas trevas do anarquismo. Na tentativa de sobreviver nesse novo meio inóspito e sem lei os humanos irão se agrupar em pequenas comunidades isoladas que competirão violentamente umas com as outras para saciar as necessidades mais básicas. Quando esse dia chegar será a certeza de que o declínio da raça humana tornou-se irremediável.

Essa será nossa última transmissão meus caros ouvintes, obrigado por todos esses anos que estivemos juntos. Eu sou Charles T. Plunk direto da Radio Santa Alma. Adeus, boa sorte a todos e que Deus nos ajude.

Transmissão de rádio três meses antes do fim do mundo.



  • Sobreviventes

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Nathanael S. Augusto: sobrevivente do genocídio em massa causado pela epidemia, resistiu a onda inicial de ataques graças as suas habilidades de tiro e perícia em armas de fogo, sem mencionar seu benéfico senso paranóico de lidar com as situações. Para se manter vivo, ingressou na Legião da Esperança, um grupo de pessoas com aptidões e conhecimentos especiais que se uniram para garantir a sobrevivência. Tem sonhos bizarros e surreais, os quais está longe de compreender; indeciso se as visões de toda noite tratam-se de profetizações do futuro ou fragmentos de seu obscuro passado, ou mesmo alucinações desencadeadas pela loucura e pelas carências do antigo estilo de vida. Sua função na Legião é buscar mantimentos para o grupo.

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Isaac J. Carvalho: apesar dos ataques de pânico e os vários sintomas de esquizofrenia visíveis em seu comportamento, este ex-guarda rodoviário se mostrou muito útil com seu vasto conhecimento de rotas e localizações por toda extensão do território. Forma equipe com Nathanael na busca por mantimentos, sendo um dos seus melhores amigos. Inventa histórias absurdas quando indagado sobre seu passado.

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Coronel Henrique: Ex-militar, líder e fundador da Legião da Esperança, grupo anarquista organizado que acolhe apenas pessoas cujas destrezas possam ser úteis para a preservação da entidade. O nome “Legião da Esperança” não passa de um simples luxo, algo para os membros terem no que acreditar. Altamente autoritário, governa com mão-de-ferro a pequena comunidade. Nunca hesita em agir do modo que considerar necessário, mesmo significando descartar vidas humanas e chacinar infectados e/ou não infectados. Nada se sabe sobre seu passado, a não ser o fato de ter combatido na Segunda Guerra.

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Santacruz: homem solitário e de hábitos anti-sociais, completamente adaptado ao terreno apocalíptico: sente repudio pela companhia humana. Consegue se virar sozinho no cenário hostil da pós-civilização, obra considerada impossível pelo meio não-infectado. Possui técnicas de balística e sobrevivência extraordinárias, e se move como uma sombra pelas zonas urbanas. Em razão ainda desconhecida, vê os outros sobreviventes como ameaça e, apesar de ter ciência da humanidade de suas presas, caça e mata semelhantes como se fossem transmissores. Correm os boatos que, antes do fim do mundo, Santacruz era um sociopata, agindo sorrateiramente para ninguém perceber sua personalidade duvidosa; tendo todas as fantasias e demências realizadas com a vinda da praga. Outros afirmam que ele enlouqueceu com a epidemia, vendo seus entes queridos morrerem e se transformando em monstros horríveis diante de seus olhos, e com isso desenvolveu algum distúrbio racional - o incapacitando de confiar em alguém ou criar laços afetivos novamente. Para Santacruz, os outros humanos são apenas concorrentes pelos mantimentos. O fato é, dentro das ruas da cidade, está figura sombria é tão temida quanto a própria praga e suas crias; esgueirando-se pelos prédios e eliminando qualquer inconveniente com seu rifle de longo alcance.

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Maria R. Casanova: médica e psicóloga. Junto de uma meia dúzia de enfermeiros, lidera o centro médico da Legião da Esperança. Caracteriza-se por belos dotes físicos - todos dizem que ela deveria ter seguido o ramo de modelo, ou atriz, ou cantora, se as circunstâncias fossem diferentes - e parece ter certa influencia sobre o Coronel Henrique. Sempre que tem a chance, tenta seduzir Nathanael, lhe pedindo corriqueiramente estranhos suprimentos não listados no índice de mantimentos, os quais ressalta serem destinados a uma experiência pessoal que trará grandes benefícios a Legião. E nunca revelou mais detalhes. Tem uma tendência obsessiva pela própria aparência, sempre se produzindo nas horas vagas.

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Dr. Jerusalém: antropólogo que dedica boa parte de seu tempo para estudar as características comportamentais dos “enfermos”. Notou a pouco que as criaturas estão mais receptivas aos fenômenos do meio, desenvolvendo certa compreensão do ambiente, e este padrão amplia-se a cada dia que passa. É também um dos idealizadores do Projeto Arca de Noé, que tem por objetivo armazenar a maior biodiversidade possível, não afetada pela proliferação do vírus, em uma biosfera artificial para pesquisas, tanto com o objetivo de examinar plausíveis curas, quanto o intuito de preservar as espécies. Jerusalém sente repúdio pelos anarquistas, não compreende tal estilo de vida e não vê, mesmo com o atual cenário, razão que justifique seus atos. Apesar de apresentar recursos estrondosamente maiores que a Legião da Esperança e pessoas como Santacruz, ainda os odeia do fundo da alma e vive para ver seu fim.

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Donatello H. Francisco: mecânico da Legião. Por saber capoeira e manejar tanto armas brancas quando armas de fogo, compõe a equipe de mantimentos; mas sua principal função é manter os veículos funcionando e encontrar soluções para os desafios automobilísticos do dia-a-dia. Não tem nenhuma informação sobre o paradeiro de sua família, que estava de viagem durante a infestação, e por está razão tenta constantemente fazer contato com o mundo exterior. Odeia o Coronel Henrique por ele tentar sempre tirar suas esperanças e o fazer esquecer a idéia.

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Nicholas G. Blumazul: fazendeiro sobrevivente do massacre da vila Ascensão. Cuida das pequenas plantações da Legião e cria animais de mini e médio porte para sustentar todas as bocas famintas no abrigo. Ocasionalmente imagens da matança vêm a sua cabeça, e ele pode jurar que já avistou diversas vezes a desconhecida criatura que atacou o vilarejo e proliferou a doença, vagando como um predador pelas ruas da cidade. Em um desses casos, pode sentir o odor do monstro.

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Israel A. Redentor: por ter sido membro da B.O.P.E. (Batalhão Operacional de Policias Especiais), é considerado a autoridade máxima quando o requisito é o extermínio de infectados. É o líder da equipe de eliminação, utilizada quando um grande número de inimigos infesta uma área indiscartável. Certamente trata-se do combatente definitivo da Legião, e uma de suas maiores apostas de sobrevivência.

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Padre Gonçalves Del Lobo: guia religioso e conselheiro espiritual da Legião. Coronel Henrique se mantém cético, mas as rezas do padre garantiram o sucesso de dúzias de operações, sem dizer a segurança mental trazida aos homens quando ouvem as preces. Graças a isso, Gonçalves se estabilizou como membro permanente. Mas, como todos os outros, tem alguns segredos obscuros.

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Irmã Íris A. da Salvação: auxiliar do padre Gonçalves. Em razão de sua beleza e aura jovem, compete com Maria como objeto de desejo máximo dentro da Legião da Esperança. Garota inocente e meiga, jurou a vida lealdade a Deus e a ajudar o próximo. Tem como hobby artes artesanais.

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Hüsker: cortez mercador de armas. É responsável por abastecer grande parte do arsenal dos anarquistas de Bela Linhagem, tendo contato direto com todos os grupos de sobreviventes e evitando apenas os membros da Arca de Noé. Com uma vasta lista de produtos e acessórios disponíveis, das mais diversas marcas e nacionalidades - desde o armamento mais básico até os de uso militar - suas fontes de fornecimentos são desconhecidas. Possui vários pontos de venda espalhados pela cidade, mas antes da compra ser efetuada deve-se antes contactar Hüsker e “marcar um encontro”, especificando o local, a data, o horário e o serviço desejado. Apesar do mundo já ter acabado há algum tempo, o vendedor exige dinheiro vivo em troca de seu comércio. Coronel Henrique vê Hüsker como um arrogante bem vestido, uma sanguessuga que tira proveito da eterna guerra entre as facções rivais e a infestação de monstros para ganhar a vida; mas mesmo assim o atura por este ser uma peça vital para a preservação da Legião, sendo a única fonte inesgotável de armas e munição existente. O mercador de armas parece ter estranhas intenções para com Nathanael.

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Azrael: entidade de origem desconhecida que uma vez ou outra surge para Nathanael e os outros sobreviventes, não sabendo tratar-se de uma alucinação ou de fato algo real. Está criatura de físico deformado e visual estilizado se denomina como um dos mensageiros da Extinção, seres de outro plano que vêm a Terra quando uma espécie está prestes a extinguir-se por completo, lhe garantindo uma transferência rápida para o “outro lado”. Sempre que Azrael cruzar com o protagonista, ele tentará persuadi-lo a matar seus próprios companheiros e a cometer suicídio, usando de idéias extremamente pessimistas (beirando o satanismo) e discursos fortes e de grande apelo emocional. Mesmo não representando ameaça sólida, os ditos do mensageiro podem trazer danos psicológicos irreparáveis a um sobrevivente. Armas de qualquer tipo parecem não surtir efeito neste ser.

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Henry C. Saint´Anna: junto de Jerusalém, é um outro componente do projeto Arca de Noé. Geneticista de reconhecimento mundial, coordenava uma das matrizes feitas com o objetivo de encontrar a cura. A pesquisa consistia em estudar as reações do vírus exposto aos mais variados organismos e situações biológicas, pretendendo assim ampliar a compreensão do homem quanto à doença. Henry, secretamente, desviou fundos e equipamentos para seus experimentos pessoais, feitos ilicitamente na cede da organização. Tais estudos não têm ligação alguma com o “bem-comum” (isto é, a humanidade) idealizado pelo projeto, e mais se aproxima do uso militar. Seres alterados, versões modificadas do agente viral, quimeras criadas em cativeiro e com características comportamentais incontroláveis; sem mencionar as teorias, invenções e aplicações bélicas para a enfermidade, todas saídas da mente doentia de Henry. Não se sabe qual o seu real propósito e aonde quer chegar com isso, mas certamente o que Saint´Anna tem em mãos pode adiantar o derradeiro fim da raça humana. As primeiras informações vazadas sobre a experiência ocorreram quando o cientista testou algumas criações no meio da cidade, levantando suspeitas no órgão central da Arca. Apesar de obrigado a se esconder nas sombras como um rato, Henry procura incessantemente a criatura que atacou a vila de Ascensão e, supostamente, deu início à epidemia; sendo o primeiro transmissor do vírus conhecido. O geneticista o denomina como “Adão”, e acredita que este tenha a chave para decodificar a estrutura genética das “células do mal”.

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Messias: transmissor milagroso que tem o dom de curar ferimentos, regenerar membros e mesmo ressuscitar entes da mesma espécie. É seguido por centenas de infectados em qualquer parte que for, tornando impossível uma aproximação; por isso, pouco se sabe quanto à entidade. Dr. Jerusalém acredita ser este “profeta” um disseminador de idéias semelhantes à religião, um tipo de culto, e esta seria uma das primeiras compreensões do mundo que estes seres desenvolveram. Segundo o pesquisador, o Messias não é nada mais que uma tentativa da praga de se equiparar aos humanos, os substituindo por completo da face da Terra.

3 comentários:

Unknown disse...

Pô velho, ficou muito bom...
rachei de ri quando vi o jack e o billy joe BAEhgUIAE
mas sei lá...acho que assim vc vai se perder um pouco
muito personagem tal...
espero que não, pq ta ficando muito bom seu conto...parabens!
e q q aconteceu com o hamlet e mario? vc tinha q ter terminado =/
flw!
aguardo ansioso o próximo post

Emanoel Ferreira disse...

FIKOU BOM SIM KARA, PARABÉNS MSM! ENTRA COMO SEGUIDOR DO MEU BLOG :
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FLW VELHO, SUCESSO E CONTO CONTIGO COMO SEGUIDOR DO BLOG LÁ!

Thiers Rimbaud disse...

Caio, vou confessar nm li todo. Mas n há dúvida estou frente a um escritor cinematografico. Um cinema de peso. Cada personalidade cria um clima à parte.... diga-me o q tenho pra ensinar?
Ah... sim temos estilos diferentes, mas é justa/ isto q nos dá identidade.
Vlew cumpadi